Eu sei o que você sente. É difícil acordar e ter gente olhando,
esperando você crescer. Impossível entender que é preciso reduzir o corpo, estrangular a alma, podar as paixões. Complicado caber-se numa caixinha quadrada e sentir o amargo da palavra contida. Dói quando nosso coração tem que se contentar com o peito.
Asssumir que o mundo é grande e que o espírito não é infinito, engolir essas mentiras, eu sei, não é fácil. É duro, é frio, é áspero.
Bom é ser pequeno e abraçar o universo, mas não é suficiente, meu filho. É preciso ser menos. É preciso um papel, um número e um nome composto onde caibam o destino, os amores e as fantasias. São coisas difíceis de aprender e doloridas de ensinar.
Mas quem disse que a vida vem de graça?
Vou lhe dizer: vale a pena.
A dor, o sofrimento e a solidão são apenas troco, moedas que pesam em nosso bolso e que guardamos, juntamos, somamos até que, num instante, voltam a valer e nos compram um pouco da compreensão.
E se crescer é diminuir-se, meu filho, é justamente para circunavegar a luz - nem grandes, nem perto, para não nos tornar sombra. Apenas a intenção, essa é lição, nos faz chegar. Por isso preciso segurá-lo, para que não vá. Devo negar-lhe, para que possa se afirmar. Esse é meu papel: tirá-lo do jardim e jogá-lo no deserto da alma, na secura do corpo. E um dia, quem sabe, você aprende o caminho de volta. E vai perceber, ínfimo, que seu coração não parou de crescer e que dentro dele há de viver. Viver e sonhar.