quarta-feira, dezembro 17, 2008

Ode ao Ódio. (Ou Odeio saber que este titulo não é inédito)

Se’m algo enriquecemos, é nele
Que fica muito bem guardado
Esperando o momento de vir à vida
Brindar nosso dia, coroar nosso espírito.

Cada segundo é uma eternidade
Cada fio, uma vastidão
Cresce sabendo da verdade
Negando e batendo em nosso coração.

É o ônibus lotado, o cheiro de fumaça
A velha que fala, a buzina insistente
O gordo suado, o carro que passa
Sem respeitar nem moto nem gente.
É meu ódio que cresce.

É o som da cidade, a feiúra iminente
Ignorância servil, o sinal que não abre
A grávida chupando dedos em minha frente
A flacidez incasta qu’em nada cabe.
É meu ódio que cresce.

É a sabedoria avarenta, o luxo casual
O cachorro sarnento, o mendigo que pede
Preconceito, dinheiro e uma doença fatal
O perfume barato, o terror que me impede.
É meu ódio que cresce.

É a piada sem graça, a crença infundada na Graça Divina.
O pecado dos ímpios, o discurso do poder
A inexorável tristeza, a inconstante alegria.
Solidão, esperança em vão e a compaixão.

Ódio! Ódio! Ódio! Explode!

Bato nos medos, derrubo os amores, escrevo com sangue
Coagulo meu ser, mas não, não engulo esse ódio.
Comigo não mais o levo, ofereço-te presente disfarçado em versos

Cá está, o que odeio.

Odeio acordar cedo e logo cedo ter algo a odiar
Odeio o desejo incontido, implorando o amor
Odeio ficar sem palavras quando quero falar.
Odeio risada forçada, amizade animada, esboço de ator.
Odeio pessoas que gritam sem nada a dizer.
Odeio o status e o pathos emprestados a um trabalho inútil,
Odeio a vontade de ter e a preguiça de ser.
Odeio a cerimônia e a seriedade de um conselho fútil

Odeio saber que meu ódio nada mais é que amor
Disfarçado de raiva, incontido no calor
De mais um dia vivido,
Transformado, pisado, ignorado
Por um coração sofrido
Por uma realidade inclemente.

Sim, boa rima, cheia de dor
O ódio tem sua semente
Num esquecimento insolente
Do que outrora era amor.



PS:
Ódio rima com sódio
Do sal que sela a vida
Impede o perdão
Expõe a ferida.

Ódio também rima com pódio
Talvez por isso,
os vencedores dessa lida
cultivem-no dentro do coração.

segunda-feira, dezembro 15, 2008

Poeta

O branco do papel já me assustou.
Agora desafia.
Sua perfeição exige cautela.
A exatidão agonia.
Preciso colher palavras, palavras rosas azuis.
Preciso tecer sentidos,
costurar imagens,
bordar amores.
Faz-se mister inteligência
para honrar a mácula de sua candura.
Escrever é o relato do ego.
Grafia de vi’sentimentos,
Soberba literária disfarçada de mundo,
transcrição da alma, vaidosa e serifada.

Poetas, somos tolos ao elogiar a loucura,
sublimar a doçura das belas donzelas,
quando tão somente rasgamos
o véu que nos cobre e desvenda.
Tiramos nossas roupas
para cobrir o alvo pudor do papel.


Não há nada mais egocêntrico que a poesia.
Qual a necessidade de rimar, medir, escrever
Senão a si
ver, admirar e sofrer?

Exercício de humildade esse, aceitar e assumir
sua vaidade em público. O poeta é o ego do homem.

quarta-feira, novembro 26, 2008

Por quê?

Por que me sinto vazio?
Porque todo vazio há de encher-se.

Por que me sinto triste?
Porque toda tristeza há de alegrar-se.

Por que me sinto só?
Porque toda solidão há de encontrar-se.

Por que me sinto tão baixo?
Porque toda depressão há de elevar-se.

Por que chorar?
Porque tenho o amor para enxugar meu pranto.

A razão de toda ida é a volta.
E se o caminho for de pedras, afinal, há poesia.

A força que me oprime é a mesma que esboça reação
Saindo cabeça, exalando coração.

segunda-feira, agosto 25, 2008

O Importante mesmo é vencer

O que define uma derrota ou uma vitória?
Minutos, segundos, centésimos? Metros, centímetros, milímetros?
Pode apenas uma fração determinar o sucesso e o fracasso?


Não em uma Olimpíada.


A conquista, para esses atletas, é muito maior.
A competição não começou no dia 8 nem terminou no dia 24.


Eles venceram a dor, deixaram a pobreza para trás. Ganharam da fome, driblaram o cansaço, sobrepujaram as frustrações. Superaram seus limites, derrotaram os prognósticos. Saltaram sobre a saudade, aniquilaram as distâncias, calaram os derrotistas.

Venceram.

Ouro, prata, bronze. O que um vil pedaço de metal pode mudar na história destes campeões?


Parabéns para a corredora que ficou apenas em 37 o.
Parabéns para o nadador que ficou apenas em 14 o.
Parabéns para o ginasta que ficou apenas em 6o
e para a jogadora que ficou apenas em 2 o.

Afinal, somos 6 bilhões de pessoas e eles não são apenas a trigésima sétima, o décimo quarto , o sexto e a segunda. Eles são os melhores.

Parabéns a todos os nossos atletas olímpicos, que já eram vencedores antes mesmo de entrar em campo.

sexta-feira, fevereiro 08, 2008

Meus dias

O que há para ser dito que não foi?
O que há para ser visto que não foi?
O que há para ser cantado que não foi?

O que há para ser sentido que não dói?

Não vi Pelé jogar, Vinicius escrever, nem Elvis cantar,
tampouco vi o mundo sorrir.
Só me restaram bombas, aviões, homens e o vazio.
E nasci…
chorando a dor das gerações que estão por vir.

Me alimentei de ecos e restos
e amores já vividos e enterrados.
Cresci,
envelheci antes de ser jovem.

E agora que o sou, o que sou?

O gelo de uma era é o choro de uma vida.
Derrete, ainda que devegar,
nos alcança, desperta, devora;
e por fim afoga-nos,
entre soluços, perdões e desculpas.

quinta-feira, fevereiro 07, 2008

Amor e ódio. Uma questão de classe.

Palestinos odeiam judeus.
Japoneses odeiam chineses.
Brancos odeiam negros.
Negros odeiam mestiços.
Brasileiros odeiam argentinos.
Argentinos odeiam uruguaios.
Franceses odeiam americanos.
Indianos odeiam paquistaneses.
Alemães odeiam turcos.
Turcos odeiam iraquianos.


Os ricos amam os poderosos. E vice-versa.