Dizem que não se deve julgar um livro pela capa. Eu julgo.
Não pela riqueza das ilustrações, pelo estado de conservação
ou pelas composição de cores. Julgo pelas letrinhas. Aquelas que, juntas,
formam um título. Sim, tenho esse péssimo hábito de ser inluenciado pelo título
das obras.
Calma lá, não me deixo levar por apelos do tipo "Pai Rico,
Filho Pobre, Tia-Avó Esnobe". Nem por coisas do gênero "O segredo do
meu queijo está em você".
Esses não são títulos de livros, mas de anúncios
publicitários que alguém achou por bem colocar na capa. Humano demasiado
humano.
Os títulos que me fascinam dizem a mim mais que qualquer
conteúdo poderia dizer. São convites que não precisam ser abertos. Aliás, a
maioria deles, eu nunca li. Tenho um medo danado de não encontrar um texto à
altura da capa. Ou um filme à altura do cartaz, se me permite ampliar meu
pré-julgamento a outra arte.
Esses títulos conseguem, em uma simples frase, falar mais
sobre a alma humana que extensos tratados filosóficos. São suscintos,
incompletos, repletos de interpretações. Incertos como todos nós somos, revelam
misteriosamente um pouco dessa insustentável leveza do ser.
Sei que é um apego, essa apropriação da obra por mim. Todo o
conteúdo é meu, minhas interpretações, meus sonhos, não permito ao autor me
contrariar. Mas é irresistível mantê-los fechados. Tenho alguns desses livros e
filmes empoeirando na prateleira, sem nunca tê-los esquecido. Tão longe, tão
perto, eis o fascínio.
Talvez eu devesse lê-los. Ou vê-los. Alguns são obras
primas. É que esse suspense me entorpece. Me contento no amar sem conhecer, nessa
promíscua relação platônica com as capas que julgo tão carinhosamente. É um
amar sem objeto, sem começo nem fim. Um amar verbo intransitivo.
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